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Qualidade do Rio Piracicaba para abastecimento e vida aquática é ruim ou péssima, aponta Cetesb

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As águas do Rio Piracicaba, em Piracicaba (SP), têm qualidade ruim ou péssima para abastecimento público e para a vida aquática, aponta relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) lançado no último dia 22.

O "Relatório de Qualidade das Águas Interiores 2022" também aponta que a água analisada no trecho possui compostos que podem causar câncer e comprometer a vida das espécies aquáticas.

Abastecimento de água

Em relação ao Índice de Qualidade de Água para fins de Abastecimento Público (IPA), o documento aponta que a captação do Rio Piracicaba, em Piracicaba, teve as classificações ruim e péssima entre 2017 e 2022 devido ao número de células de cianobactérias e potencial de formação de trihalometanos.

As cianobactérias têm a capacidade de gerar cheiro e gosto desagradáveis na água e de causar desequilíbrio nos ecossistemas que ali existem. Além disso, elas podem liberar toxinas que os sistemas de tratamento de água convencionais não conseguem eliminar.

Já os trihalometanos, que são compostos formados durante a adição de cloro na água para eliminar compostos orgânicos, são considerados cancerígenos.

Vida aquática

O relatório da Cetesb também apresenta o Índice de Qualidade das Águas para a Proteção da Vida Aquática (IVA) para os rios do estado.

Nessa avaliação, o principal índice observado é o oxigênio dissolvido. O valor mínimo de oxigênio dissolvido para a preservação da vida aquática, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), é de 5 miligramas por litro (mg/L), mas existe uma variação na tolerância de espécie para espécie.

Na região, três pontos no Rio Piracicaba, em Piracicaba, e um ponto no Rio Capivari, em Rafard (SP), apresentaram baixos valores de oxigênio dissolvido e, portanto, foram classificados nas categorias ruim ou péssima para a vida aquática.

Com relação à mortandade de peixes, o Rio Piracicaba apresentou condição muito ruim, observada em diferentes trechos deste corpo de água desde 2002.

Em 2022, verificaram-se 127 registros de mortandades de peixes no estado. As bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí; Mogi-Guaçu; Turvo e Grande; e Sorocaba e Médio Tietê concentraram mais da metade (50,4%) das ocorrências registradas.

Toxicologia da água

A Cetesb ainda realizou ensaios de mutagenicidade das águas dos rios, que avaliam a presença de compostos genotóxicos, capazes de gerar alterações no material genético dos animais aquáticos e causar mutações. Eles também são indicadores da presença de grupos químicos potencialmente cancerígenos nos rios.

No Rio Piracicaba, o ponto analisado em Piracicaba, situado à jusante da foz do ribeirão Piracicamirim, foi estudado em 2019, quando apresentou atividade mutagênica nas quatro análises. Em 2022, foi detectada atividade mutagênica em três das quatro análises.

Neste ano, segundo a Cetesb, será estudado outro ponto, localizado na foz do Ribeirão Piracicamirim, para investigar suas contribuições nesse trecho do Rio Piracicaba.

Professor confirma qualidade ruim

Professor e pesquisador em Ecologia Aplicada, Plínio Barbosa de Camargo, responsável pela Divisão e Funcionamento de Ecossistemas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), realiza medições frequentes ao longo do Rio Piracicaba. Para ele, os dados condizem com o que tem observado. A última medição realizada pelo docente foi na quinta-feira (28).

Ele também confirma o reflexo na vida aquática, pela pela baixa concentração de oxigênio dissolvido. "Em fases mais críticas, quando até tem menos água, já chegou a 0,6. A quantidade de oxigênio é tão baixa que começa a matar peixe".

Tratamentos limitados

Camargo aponta que mesmo os tratamentos de esgoto mais modernos, em cidades com 100% de cobertura, ainda possuem limitações. "O problema é que todos os tratamentos feitos, mesmo os mais modernos, quanto mais antigos, você cria um lodo, cria um resíduo que em algum momento eles descarregam no rio do mesmo jeito. As que têm tratamento não têm uma eficiência muito elevada e várias outras, às vezes, não têm um tratamento completo, especialmente de esgoto".

Descargas de empresas

O docente também alerta para as descargas realizadas por empresas nos corpos d'água e cita desde óleo a carga orgânica do setor de papel e celulose.

"Tem que ficar atento porque tem muitas empresas na nossa região, apesar da gente ter uma região de bastante desenvolvimento tecnológico, tem muitas empresas grandes que não são de bom coração, não. É só ter uma descargazinha um pouquinho maior no rio que eles aproveitam para despejar suas coisas e algumas vezes materiais mais tóxicos".

Remédios e pesticidas

O professor também aponta os malefícios causados pelos produtos químicos descartados nos rios, que também causam atividade mutagênica.

"Tem uma grande quantidade já de produtos que normalmente são antibióticos, anticoncepcionais ou pesticidas. Pesticida é muito mutagênico. [...] E a moçada tá jogando remédio na privada. Ou a gente tá tomando muito remédio e sai pelo nosso organismo. E aí eu não tô dizendo que são indústrias ou alguma coisa que tá jogando não, mas é o consumo maior e isso acontece na Europa".

Mas ele observa que é possível retirar substâncias como essas com tratamentos mais eficientes.

Como melhorar?

Camargo cita dois pontos para melhorar as condições dos corpos d'água da região. Um deles é a análise dos pontos de ineficiência do tratamento de água e esgoto e a melhoria desses sistemas.

Ele também defende a restauração de corpos d'água conectados na bacia.

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